01 junho, 2014

ATIVIDADES PARA A CUMULATIVA - ATIV. 2 (APOSTO E VOCATIVO)



Recado ao Senhor 903
“Vizinho
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente1 reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado2 com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito3 e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos4 ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22h às 7h, pois às 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109, que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha, na sala 305.
Nossa vida vizinho está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘São três horas da manhã e ouvi música em tua casa vizinho. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho, entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”
(Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)

ANALISANDO O TEXTO:

1.   Por que a pessoa que morava no 903 reclamava de seu vizinho?

2.   O que significa mudar o comportamento para um “manso lago azul”?

3.   Você concorda que a vida das pessoas “está toda numerada”? Justifique sua resposta.

4.   Se a resposta da questão anterior foi “sim”, cite alguns exemplos do cotidiano em que isso acontece.

5.   Você acha que é comum uma pessoa escrever um recado como o que acabamos de ler ao seu vizinho? Explique.

6.   Ao longo do texto, é possível perceber palavras que foram destacadas. Marque uma alternativa que melhor substitui o termo grifado, obedecendo à ordem em que aparecem, quanto ao sentido produzido e dentro do contexto da frase:

1. (     ) velha  (     ) forte  (     ) estranha  (     ) mentirosa
2. (     ) solitário (     ) triste (     ) isolado  (     ) decepcionado
3. (     ) implícito  (     ) externo  (     ) claro  (     ) severo
4. (     ) rugimos  (     ) quebramos  (     ) fazemos vento (     ) balançamos

7.   Na parte sublinhada, há um sinal de pontuação que pode ser substituído por um termo de igual valor, isto é, que não altera o sentido da frase. Qual seria ele?

Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis (...)

8.   Leia com atenção o fragmento:

Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor.
   Sobre ele, responda:


a)  O que indicam tantos números?

b)  Por que foram dadas tantas “coordenadas” pelo vizinho?

c)  Há 2 partes dos fragmentos que foram sublinhadas. Qual a função que desempenham?
d)  Sendo assim, qual a função sintática do que está sublinhado?

9.   Quatro trechos foram transcritos abaixo:

1
“Vizinho
Quem fala aqui é o homem do 1003. (...)”
2
“(...) Nossa vida vizinho está toda numerada (...)”
3
“(...) São três horas da manhã e ouvi música em tua casa vizinho (...)”
4
“(...) E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. (...)”

a)  Qual a função da palavra “vizinho”?
b)  Qual a sua função sintática?
c)  Sendo assim, qual a o problema de escrita presente em torno dessa palavra?
d)  Corrija onde estiver com problemas.

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