11 dezembro, 2014

ATIVIDADE DE RECUPERAÇÃO

Olá, queridos! Segue atividade de recuperação para revisar e fixar os conteúdos estudados!

Quando era adolescente, eu andava com a franja do cabelo batendo no nariz. Parecia um cachorro lulu, mas me achava o máximo. Meu pai resistiu a tudo: ao som de Janis Joplin, à minha mania de desenhar girassóis nos cadernos, e só entregou os pontos quando me viu desbotando um jeans novinho com cândida.
Em nocaute por pontos, suspirou:
— Nada mais me espanta.
Reagi dedicando boa parte da minha vida a defender lances de vanguarda, como o uso de brinquinhos em orelhas masculinas quando isso era tabu. Sempre achei que nada me surpreenderia.
Pois fui visitar uma amiga cuja filha adolescente, de 14 anos, tem o rosto de um anjo de catedral, mas se veste de preto, como um morcego. Encontro as duas brigando.
— Quero fazer uma tatuagem e ela não deixa. Sorrio, pacificador. Aconselho:
— O ruim da tatuagem é que, se você se arrepender mais tarde, não sai.
A morcega explica: será inscrita em um lugar do corpo só possível de ser visto se ela mostrar. Tremo. Pergunto onde. A resposta alegre:
— Dentro da boca.
Repuxa os lábios como um botocudo e mostra o sítio designado: a parte frontal das gengivas. A mãe lacrimeja:
— Não, não. A bandeira do Brasil...
Eu e a mãe nos olhamos aparvalhados. Descubro que o símbolo pátrio virou moda. A morcega continua: quer porque quer ir a uma rua que reúne morcegos, mariposas e outros bichos nos fins de semana. Arbitro:
— Lá vão punks da pesada!
Ela zumbe, hostil, porque se considera punk da pesada. Reage:
— O movimento punk quer liberdade, só isso.
— Prendi você? — lamenta-se a mãe inutilmente.
Fico sabendo que os punks de bom-tom até andam, na tal rua, com cartazes dizendo: “Não quero briga” ou “Sou paz”. Também elegeram um templo: a danceteria Morcegóvia, no bairro Bela Vista. É lá que se encontram vestidos preferencialmente de escuro, com bijuterias de metal pesado, brinquinhos de crucifixo e uma enorme alegria de viver — só preenchida pelo som de rock pauleira. Digo, para me fazer de moderno:
— Sabe que fui ao show do Michael Jackson?
Ela torce o nariz. Odeia. Led Zeppelin, Sepultura, isso sim! Arrisco:
— Quem sabe você fica rica montando um conjunto chamado Crematório.
— Vocês (nós, adultos) só pensam em coisas materiais. A gente (eles, os punks) quer é saber do espírito.
Já ouvi isso em algum lugar. Eu dizia a mesma coisa e ficava furioso quando ouvia meus pais dizerem que, quando eu fosse mais velho, entenderia tudo que estavam passando comigo. Explico que concordo com as teses morcegas. Tenho apenas problemas em relação ao estilo. Olho para ela, de camiseta preta e jeans rasgado, e penso, como ficaria bonitinha num vestido de debutante.
Lembro de sua festa de aniversário: o bolo era em forma de guitarra, cinza. Em certo momento, a turma se divertiu atirando pedaços de doces uns nos outros, para horror das mães e avós presentes.
Subitamente desperto, descubro que a onda punk se espraia muito mais do que eu pensava.
Um dia desses vi um garoto pintado de três cores. O filho de uma vizinha usa dois brincos dourados, um rubi no nariz e cabelos tão cacheados que noutro dia o cumprimentei pensando que fosse a mãe dele.
A morcega me encara, pestanas rebaixadas, farta. Nervoso, reflito que devo estar ficando velho. Adoraria estar do lado da filha, para me sentir rejuvenescido. Toca a campainha, ela vai até a porta. Um rapaz alto, de cabeça inteiramente raspada, sorri, rebelde.
Observo um dragão tatuado em seu couro cabeludo. A mãe range os dentes, enquanto a filha sai nos braços de seu príncipe motoqueiro.
Eu e a mãe nos olhamos, tão nocauteados como foi meu pai. Sei que o rapaz trabalha, como a maioria dos punks. Mas onde? Não consigo imaginar o gerente do banco com um alfinete espetado nas bochechas.
São rebeldes apenas nas horas vagas, quando voam em seus trajes escuros pela noite? O careca bota peruca na hora da labuta?
A mãe me oferece um café. Exausta com o rodopiar das gerações. Já sabemos: vem mais por aí.
Olho para a noite e penso em todos os morcegos zunindo por São Paulo. Ser adolescente é difícil, mas... que saudade!

(CARRASCO, Walcyr. O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1996. p. 64-6. Col. Para Gostar de Ler.)

1) O texto faz uma contraposição entre os valores dos jovens — isto é, seus princípios, crenças e comportamentos — e os valores dos adultos. Como a narrativa é feita em 1ª pessoa, o narrador também deixa transparecer seus valores. Como o narrador era na sua adolescência? E depois da adolescência, ele mantém suas convicções ou passa a ser conservador? Justifique sua resposta com uma frase do texto.

2) No 3º parágrafo, o narrador afirma: “Sempre achei que nada me surpreenderia”. O que o narrador demonstra ser, com essa frase: liberal ou conservador? Que palavra dessa frase já pressupõe que algo o surpreenderá no futuro?

3) O narrador se refere à adolescente e aos amigos dela fazendo uso de palavras que designam animais. Explique o sentido dessas comparações: 

a) “tem o rosto de um anjo de catedral, mas se veste de preto, como um morcego”

b) “quer ir a uma rua que reúne morcegos, mariposas e outros bichos nos fins de semana”

4) Na discussão com a mãe e com o narrador, a adolescente defende o movimento punk com dois argumentos. De forma resumida, quais são eles? A forma como a adolescente expõe esses argumentos demonstra que ela conhece profundamente as ideias punks, ou que ela provavelmente as conhece “por cima”, “de orelhada”? Justifique sua resposta.

5) O narrador finaliza com a frase: “Ser adolescente é difícil, mas... que saudade!”.

a) Na sua opinião, a quem se refere a dificuldade mencionada pelo narrador: ao próprio adolescente ou aos pais? Por quê?

b) Apesar das dificuldades, o narrador sente saudade dessa fase da vida. Levando em conta esse fato, quais das afirmações seguintes você considera corretas?

• A saudade revela que o narrador ainda aprecia a coragem e a ousadia dos jovens em querer alterar os valores e os comportamentos sociais.
• O narrador se identifica com as causas da juventude de hoje, mas a fase dele já passou; por isso, ele apenas sente saudade.
• O fato de o narrador sentir saudade de sua fase adolescente significa que, apesar de ter se tornado mais experiente e talvez até mais acomodado, ele reconhece o quanto é bom ser jovem e rebeldemente lutar por um ideal

6) No 1º parágrafo, o narrador, referindo-se a reações do pai diante dos seus comportamentos de adolescente, afirma: “entregou os pontos” e “Em nocaute por pontos, suspirou”. Explique o sentido das duas expressões destacadas.

7) A palavra pois é empregada normalmente em situações em que se deseja explicar alguma coisa
dita anteriormente. Por exemplo:
Não posso ir com você até lá, pois tenho um compromisso.
Note que a oração “pois tenho um compromisso” 

8) A palavra "pois" é empregada normalmente em situações em que se deseja explicar alguma coisa dita anteriormente. Por exemplo: "Não posso ir com você até lá, POIS tenho um compromisso." Note que a oração “pois tenho um compromisso” explica por que se disse antes “Não posso ir com você até lá”. Agora observe a construção a partir da palavra POIS, do 3º parágrafo do texto. Transcreva-a aqui e depois responda:
  
Essa palavra foi empregada nessa situação com um sentido diferente do habitual. Qual das palavras abaixo poderia substituí-la, sem alteração de sentido? 
por isso - porque - até que - logo - uma vez que

9) Retire expressões do texto que tenham sentido denotativo e conotativo.

10) Faça frases usando cada uma das 6 figuras de linguagem, contanto que aborde o mesmo tema do texto lido.

Boa prova!